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1.7.11

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que de um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

do Antonio Cícero

28.11.10



A economista (UFRJ/UNICAMP) Maria da Conceição Tavares no programa Agenda Econômica pela Tv Senado, falando sobre economia política no Brasil e no mundo. Sobre como a Europa se matém conservadora ao continuar com o modelo neo liberalista... Sobre o Plano Real ser do Itamar Franco... A mujer é firmeza, vai vendo

A América Latina continua... com a matança!

Assisti hoje um programa sobre as favelas Medelín e Ciudad Bolívar (esta última com 1 mi de pessoas) em Bogotá (Colômbia) na Tv Câmara. O caso é que tem favela na América Latina inteira e lá, como aqui, a polícia (no caso de lá o Exército) mata a todos. Uma moradora de um povoado povoado a fim de se manter neutro em relação ao conflito tráfico/estado (eles saíram de onde moravam quando o Exército chegou , tomou um terreno de forma violenta e montou ali uma base deixando ainda mais tenso o clima do lugar, forçando-os a se mudarem) disse que não deseja que venham e matem tanto os "bandidos" como os "soldados" porque acima de tudo são pessoas (sem aspas).

27.11.10

A faixa de Gaza é aqui

por Bárbara Gancia

Ouço muito dizer que o Rio de Janeiro está cansado de viver em guerra civil. Mas será que está mesmo? Afinal, de que Rio de Janeiro estamos falando?
Difícil dizer até que ponto uma cidade tão profundamente cindida possa ter personalidade integrada e uma única voz.
Mas algo me diz que os que provocam a violência também devem ser cariocas, não? Ou será que os morros foram tomados por incas venezianos enfurecidos?

De novo, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) quis fazer bonito e, desta vez bebendo da fonte de Winston Churchill ("We shall never surrender"), pediu que o carioca não se acovardasse. Ora, não vi covardia na ação dos traficantes igualmente cariocas, não.
Ao contrário, a tática de semear o terror queimando carros e ônibus pela cidade, alguns até com gente dentro, parece ser estratégia de guerrilha urbana ultrasofisticada. E, insisto, executada por cariocas.
O que quero dizer é que em algum momento nós teremos de reconhecer a existência destas gerações perdidas para o tráfico e para a deseducação. É isso ou a criação de um conflito duradouro, uma espécie de Palestina na Guanabara que vai se alastrando pelo país.
O assalariado enganou-se quando pensou que pagar imposto por três já estava de bom tamanho, que sua parte estava feita.

José Carlos dos Reis Encina, o traficante Escadinha, que para os parâmetros de hoje seria um mahatma Gandhi, já nos havia advertido sobre a brutalidade do que estava por vir. Agora eles estão aqui, são a segunda e a terceira gerações de excluídos que vivem do lucro das drogas. E eles têm uma raiva brutal de você e de mim.
Moleque começou a fazer avião aos 10 anos, viveu sob o código de honra do tráfico e viu tudo na vida ser resolvido aos tiros. Que modelo de sucesso esperamos que ele siga, o do Bill Gates e do Eike Batista?
Você, meu caro leitor, já se deu ao trabalho de tentar enxergar esse garoto da periferia mais de perto? Ele está por toda parte, muitas vezes tem emprego fixo e convive ao seu lado. Mas, se pudesse, enchia você de pipoco sem sentir remorso.
É essa a estética que predomina, a gente só não vê porque não tem o olho treinado. Está no baile de fim de semana, no jeito de se relacionar com os amigos, na maneira de lidar com a autoridade, na forma de tratar a mulher.

A hostilidade é a base de tudo, levar vantagem, passar a perna e garantir o seu. Mais ou menos o que acontece hoje com a garotada da classe média, só que com uma dose bem maior de raiva. E com os limites impostos pelo tráfico.
Sujeito nasce em um cômodo com mãe trabalhando fora e uma pá de irmãos. Um vira camelô, o outro policial, o outro travesti e alguém descamba para o tráfico. Há muita droga rolando debaixo do nariz e quase nenhum afeto.
Admira que o camarada queira matar e pilhar quem o vê como inimigo e só sabe oferecer indignação?

24.8.10

Entre a coisa e o nome, a coisa
entre o vinho e a taça, o vinho
entre a boca e o baton, a boca
entre a mão e a luva a mão
entre o pé e o salto, o pé
entre a pele e o pano, a pele

entre nós, nada.

Poema 'Entre' do Chacal.

19.8.10

voltay a escrever sobre minhas baladas da arrasada. adios tevê! to tentando lembrar de um filme que assisti chamado 'A garota da fábrica de caixas de fósforos' da arrasadan mesmo, coitada! >

22.6.10

fiquei pensando que a gente podia viajar
e fazer um albúm de fotografias
pra depois queimar

13.4.10

Meu futuro amor passeia - literalmente -
nos píncaros daquela nuvem

Mas na hora de levar o tombo advinha quem cai.

Estilos Trocados, Cacaso.

12.4.10

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

Do Desejo, Hilda Hilst

5.4.10

amanhã (dia 6) acontecerá a votação do projeto de lei que institui o dia municipal de combate a homofobia, às 16h na câmara dos vereadores, atrás da opressora catedral

16.3.10

(...) iam bem juntos, iam resolutos
olhares cúmplices; mas não impuros
andavam devagar, indissolutos
num vago andar feroz e quase inútil (...)

jorge de lima, canto II, poema VI

19.1.10

bom é ser árvore, vento,
sua grandeza inconsciente
e não pensar, não temer
ser, apenas: altamente

permanecer uno e sempre
só e alheio à própria sorte
com o mesmo rosto tranqüilo
diante da vida ou da morte.

poema epigrama da poeta marly de oliveira

7.1.10

a estrela da tarde está
madura
e sem nenhum perfume

a estrela da tarde é
infecunda
e altíssima

depois da estrela da tarde
so há:
o silêncio

poema 'a estrela da tarde' de orides fontela

7.10.09

silenciosos, os feiticeiros das metrópoles semeiam impaciência e angústia com as suas mãos secam os poços, às vezes, nublam a visão do condutor ou atiram veneno nos vasos do terraço de noite roubam o sonho das crianças e, aos seres abraçados toda sensação, todo desejo de se dar
ontem puseram uma soga no vizinho, privaram a mulher da vontade
a cor das flores, a fragrância dos cabelos
impuseram dores terríveis nas cabeças, o medo no peito
cabisbaixo, inclino-me ante os ídolos
a sua raiva é afiada, sua sede incomensurável
e o sangue não coagula, cada súplica anula-se
os lábios temerosos repetem frases insensatas
as mãos repetem gestos mecânicos
os feiticeiros traçam figuras ocas
cortam raízes, num instante de lassidão
esgotam-nos até à última gota.

poema do poeta esloveno Brane Mozedic

23.8.09

se acaso uma alma se fotografasse
de modo que nos mesmos negativos
a mesma luz pusesse traços vivos
o nosso coração e nossa face;

e os nossos ideais, e os mais cativos
de nossos sonhos...
se a emoção que nasce
em nós, também nas chapas se gravasse

mesmo em ligeiros traços fugitivos
poeta! tuterias com certeza
a mais completa e insólita surpresa

notando, deste grupo bem no meio
que o mais belo, o mais forte e o mais ardente
desses sujeitos, é precisamente

o mais triste, o mais pálido e o mais feio


se acaso uma alma se fotografasse, euclides da cunha
ao amanhecer: av. colombo x glauco velasquez

8.8.09

Recursos da autodestruição

Nascidos em uma prisão, com fardos sobre nossos ombros e nossos pensamentos, não poderíamos alcançar o termo de um só dia se a possibilidade de acabar não nos incitasse a recomeçar o dia seguinte... Os grilhões e o ar irrespirável deste mundo roubam-nos tudo, salvo a liberdade de matar-nos; e esta liberdade nos insufla uma força e um orgulho tais que triumfam sobre os pesos que nos esmagam.
Poder dispor absolutamente de si mesmo e recusar-se: existe dom mais misterioso? A consolação pelo suicídio possível amplia infinitamente esta morada onde sufocamos. A ideia de nos destruir, a multiplicidade de meios para consegui-lo, sua facilidadee e proximidade nos alegram e nos assustam: pois não há nada mais simples e mais terrível do que o ato pelo qual decidimos irrevogavelmente sobre nós mesmos, Em um só instante, suprimimos todos os instantes; nem o próprio Deus saberia fazer igual. Mas, demônios fanfarrões, adiamos nosso fim: como renunciaríamos ao desdobramento de nossa liberdade, ao jogo de nossa soberba?...
Quem jamais concebeu sua própria anulação, quem não presentiu o recurso à corda, à bala, ao veneno ou ao mar, é um condenado abjeto ou um verme rastejante sobre a carcaça cósmica.
Este mundo pode nos tirar tudo, pode proibir-nos tudo, mas não está em poder de ninguém impedir nossa auto-abolição. Todos os utensílios nos ajudam, todos os nossos abismos nos convidam; mas todos os nossos instintos se opõem. Esta contradição desenvolve no espírito um conflito sem saída. Quando começamos a refletir sobre a vida, a descobrir nela um infinito de vacuidade, nossos instintos já se erigiram em guias e mandatários de nossos atos; refreiam o voo de nossa inspiração e a destreza de nosso desprendimento. Se, no momento de nosso nascimento, fôssemos tão concientes como o somos ao sair da adolescência, é mais do que provável que aos cinco anos o suicídio fosse um fenômeno habitual ou mesmo uma questão de honrabilidade. Mas despertamos tarde demais: temos contra nós os anos fecundos unicamente pela presença dos instintos, que devem ficar estupefatos com as conclusões a que conduzem nossas meditações e decepções. E reagem: no entanto. como adquirimos a consciência de nossa liberdade, somos donos de uma resolução tanto mais atraente quanto mais quando não a colocamos em prática. Ela nos faz suportar os dias e, mais ainda, as noites; já não somos pobres, nem oprimidos pela adversidade: dispomos de recursos supremos. E mesmo que não os explorássemos nunca, e acabássemos na expiração tradicional, haveríamos tido um tesouro em nossos desamparos: existe maior riqueza do que o suicídio que cada um carrega em si?

Se as religiões nos proibam morrer pr nossa própria mão, é porque viam nisso um exemplo de insubmissão que humilhava os templos e os deuses. Certo consílio de Orléans considerava o suicídio como um pecado mais grave que o homicídio, porque o assasaino sempre pode se arrepender, salvar-se, enquanto que aquele que tirou a própria vida transpõe os limites da salvação. Mas o ato de se matar não parte de uma formula radical de salvação? E o nada vale tanto quanto a eternidade? Só o existente não tem necessidade de fazer guerra ao universo: é a si mesmo que envia o ultimato. Já não aspira a ser para sempre, se um ato incomparável foi absolutamente ele mesmo. Recusa o céu e a terra como recusa-se a si mesmo. Ao menos, terá alcançado uma plenitude de liberdade inacessível ao que busca indefinidamente no futuro...

Nenhuma igreja, nenhuma instituição inventou até o presente um só argumento válido contra o suicídio. A quem não pode mais suportar a vida, o que responder? Ninguém está à altura de tomar sobre si os fardos do outro. E que força dispõe a dialética contra o assalto dos desgostos irrefutáveis e de mil evidências inconsoladas? O suicídio é um dos sinais dinstintivos do homem, uma de suas descobertas: nenhum animal é capaz dele e os anjos apenas o advinharam; sem ele, a realidade humana seria menos curiosa e menos pitoresca: faltar-lhe-ia um clima estranho e uma série de possibilidades funestas, que têm seu valor estético, mesmo que só fosse por introduzir na tragédia soluções novas e uma variedade de desenlaces.
Os sábios antigos, que se matavam como prova de sua maturidade, haviam criado uma disciplina do suicídio que os modernos desaprenderan. Condenados a uma agonia sem gênio, não somos nem autores de nossos últimos instantes, nem árbitros de nossos adeuses; o final não é nosso final: a excelência de uma iniciativa única - pela qual resgataríamos uma vida insípida e sem talento - nos falta, como nos falta o cinismo sublime, o fausto antigo da arte de perecer. Rotineiros do desepero, cadáveres que se aceitam, todos nós sobrevivemos e morremos apenas para cumprir uma formalidade inútil. É como se nossa vida só se preocupasse em adiar o momento em que poderíamos nos livrar dela.

retirado do livro 'Breviário de Decomposição', Cioran

19.7.09

funcional (?)

o ônibus está a alguns minutos atrasado , disse minha mãe impaciente
olhando para meus olhos enormes reconhecendo-se um pouco, talvez
estávamos os dois muito bonitos naquele 3 de Março à espera da linha Vila Operária
quando entramos lá dentro estava cheio de gente e por isso permanecemos de pé, eu segurando em sua calça marrom e ela em um cano cinza pregado ao teto

descemos e atravessamos a rua, parando frente à um portãozão verde com quatro letras enormes - que descobri naquele mesmo dia serem um L, um B e um V - e o lugar estava cheio de crianças como eu e mulheres como minha mãe
ela estava carinhosa,
me abraçou e disse que à partir daquele momento seriam assim os nossos dias, eu ficando ali com aquelas donas e ela(também) trabalhando. protestei um pouco e ela explicou-me que ainda era novo para compreender que é assim mesmo que o mundo funciona, que nessa idade (uns 6) à gente que é pequeno devora tudo o que nos é falado e por isso ficamos ali naquele lugar - chamado creche

lembro ainda que eu gritei a ela "mãe, não quero engolir palavras"

que ela riu da minha meninisse e depois me entregou à dona maria - já acostumada àquele tipo de protesto - e que foram realmente assim os nossos dias
pra sorte desses lugares ou (nfelicidade ) nossa demora até percebermos o que é viver

14.7.09

deixa o menino brincar!

assisti na casa da Camila em um telejornal da região que em Sarandi (Paraná) policiais "confiscaram" três pipas de três garotinhos, segundo eles "as crianças correm de um lado a outro da pista olhando para o céu ao atravessar a rodovia, o que pode causar um ENGAVETAMENTO, visto que já há na pista marcas bruscas de freadas". cê acredita?
ora, se não houvessem pistas e muito menos carros, todas as crianças do mundo poderiam brincar e olhar pro céu à vontade nas ruas das cidades que, antes da criação do automóvel eram planejadas de modo que as pessoas pudessem desfrutar mais de suas ruas e de seus espaços urbanos públicos - que estão sendo transformandos em estaciomentos, espaços mortos úteis apenas para guardar carros.

o trecho à seguir foi retirado do livro "Apocalipse Motorizado - A tirania do automóvel em um planeta poluído" da editora Conrrade - dentro da coleção Baderna - para todos os motoristas.


Caros Motoristas

O absurdo de tudo isso

estão por aí esses grandes pedaços de metal arremessando-se em alta velocidade sobre áresas residenciais. eles são tamanha ameaça à vida e à saúde que cada viagem feita através de qualquer outro meio é gasta, sobretudo, se esquivando desses objetos monstruosos. eles são simplestemente a maior causa da poluição atmosférica e do aquecimento global. formam também o maior mercado da insdustria de petróleo, que fomenta tantas guerras. seu barulho é o barulho da cidade. esses carros são tão centrais à organização desta sociedade, especialmente à organização do trabalho, que uma ilusão tem de ser mantida de modo que ninguém veja nada de errado com o número sempre crescente de carros. proteger-se deles tornou-se nossa responsabilidade como pedestres. nós é que temos de parar, olhar e escutar. segurança nas ruas é primeiríssima coisa que é ensinada às crianças.
presume-se que todos nós identificamos nossos próprios interesses com aquele da economia, isto é, o crescimento econômico. um dos indicadores principais do crescimento econômico é o crescimento na venda de carros. os apresentadores de telejornais anunciam uma queda nas vendas de carros com o mesmo tom sóbrio de voz usado para apresentar estatísticas de desemprego ou ataques terroristas. os anúncios, a mídia e o próprio traçado das nossas cidades, tudo afirma que aquilo que é conveniente para você motorista é conveniente para todos. e isso é apenas parte de um pressuposto maior, que consite em achar que todos vivem em unidades familiares feitas sob medidas do carro e que todos querem chegar ao seu destino o mais rapidamente possível.
na verdade, muitas pessoas veem algo errado nisso tudo. mas a maioria delas não é motorista. as pessoas que estão fora do difundido privilégio de possuir um carro geralmente estão dentro de um ônibus ou balançando os braços impotentemente em faixas de pedestres. mais alguns vão mais longe...



10.7.09

3.6.09

felicidade, deves ser bem infeliz
andas sempre tão sozinha
nunca perto de ninguém

felicidade, vamos fazer um trato
mande ao menos teu retrato
pra que eu veja como és

esteja bem certa porém
que o destino bem cedo fará
com que teu rosto
eu vá esquecer

felicidade não chore
que às vezes é bom
a gente sofrer


música 'felicidade infeliz, maysa

26.5.09


Ah, que você escape no instante
em que tenha alcançado sua melhor definição.
Ah, minha amiga, não queira acreditar
nas perguntas dessa estrela recém-cortada,

que vai molhando suas pontas em outra estrela inimiga.
Ah, se fosse certo que, à hora do banho,
quando, em uma mesma água discursiva,
se banham a imóvel paisagem e os animais mais finos:
antílopes, serpentes de passos breves, de passos evaporados,
parecem entre sonhos, sem ânsias levantaros mais extensos cabelos e a água mais recordada.

Ah, minha amiga, se no puro mármore das despedidas
tivesses deixado a estátua que poderia nos acompanhar,
pois o vento, o vento gracioso,
se extende como um gato para deixar-se definir.


Ah, que você escape, do poeta cubano José Lezama Lima

29.4.09


Thomaz Farkas
Além de documentarista, escritor - de artigos para a Folha de São Paulo e a revista Novidades Fotoptica (década de 70) -o também fotografo modernista busca sua póopria identidade

24.4.09

alter ego

como um imã sou atraído por sua carne fremente
onde roço meus dedos negros
em sua pele negra

e sinto tua língua abrindo minha boca cansada
depois nos despedimos

e continuamos assim
a caminhada

23.4.09

terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida —
careca como uma lâmpada
barrigudo
grisalho
e feliz por ter um quarto

... de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros
encanadores, médicos
jornaleiros, guardas
barbeiros, lavadores de carros
dentistas, floristas
garçonetes, cozinheiros
motoristas de taxi...

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não direto nos olhos.


poema nos meus 43 anos, do bukowski

27.3.09

recluso

deito em minha cama ereto
à vontade olho para o teto

e da janela entram uns sons:
músicas fora do tom

um tormento
fora de casa é sempre maior qualquer sofrimento

16.2.09

à margem dos instantes

as horas sem horários de partida
sem pulsos, relógios
nem nada lhes dando vida

para matar o tempo

9.2.09

não preciso dormir com minhas pernas entre

- laçadas com o sol para saber que amanhece
tãopouco careço do frio para sentir que meu corpo
vezenquando extremece

desvio de verdades como meus olhos das vírgulas de uma frase
advinhando o ponto final

arde-me o olho as manhãs bem resolvidas e creio eu ser um longo canal cercado por concreto
enquanto todos os meus sentimentos são abstratos.

Comemora-se hoje o centenário da sambista Maria do Carmo ou Carmem Miranda para nós seus íntimos.

O samba, que era feito por minorias não tinha espaço no cenário musical brasileiro e foi Carmem quem o retirou glorioso de sua raiz e o revelou ao brasil e posteriormente à gringa.
Tem gravado 286 músicas dentre elas sambas e algumas marchinhas, que também foi ela quem as apresentou aos ouvidos brasileiros e americanos.Carmem vendeu nosso samba, baianas e bananas. nos dias de hoje poderiamos dizer que Carmem era nacionalista, mas não na época em que vivia, pois ela promovia a diversidade cultural, sendo chamada até de dadaísta por alguns.

Carmem nasceu em Portugal só que com swing.



14.1.09

mulher que mata homens durante o sexo para gozar e homem que se masturba vendo mulheres sendo torturadas pela tevê


o filme gira em torno de três principais personagens: angel, um rapaz inocente e virgem que diz à mãe que vai à academia mas vai fazer aulas de tauromaquia.
a advogada, maría cardenal que sai de casa para atrair a atenção e trepar com homens que encontra pela rua e para gozar ela os mata e depois de tê-los matado continua em seu sexo-solo se tocando.
e diego montes, um toureito aposentado e frustrado por não poder mais matar.


no elenco nacho martínezo, antônio banderas, assumpta serna, carmem maura e eva cobo

os mesmos atores de sempre

o filme é de 1986.

13.1.09



filme expressionista alemão de 1919, o gabinete do dr. caligari.
do diretor robert wiene.

3.1.09

toque de recolher

o sol se disfarça ao anoitecer
sapos, grilos e alguns homens desabrigados sentem a chuva que vem
para os umidecer

gotas pesam em seus corpos como os pés dos homens que os pisam
sem noção de espaço

tudo-bem-amanhece
o sol vira sol
pessoas se transformam em carros rancorosos
e o sapo, o grilo, o homem e todos os outros desabrigados
em silenciosos


24.12.08

papa eu vou comer o seu edi!
"Papa compara gays ao desmatamento

Uma declaração feita pelo papa Bento XVI no Vaticano causou polêmica ontem em todo o mundo. O pontífice disse que “salvar” a humanidade do comportamento homossexual ou transexual é tão importante quanto salvar as florestas do desmatamento.– As florestas tropicais merecem nossa proteção. E os homens, como criaturas, não merecem nada menos do que isso – afirmou Bento XVI em seu discurso na Cúria, a administração central do Vaticano.A Igreja Católica prega que, embora a homossexualidade não seja um pecado, os atos sexuais o são. Ela se opõe ao casamento gay – em outubro, uma importante autoridade do Vaticano chamou a homossexualidade de “desvio, irregularidade e ferida”.– A Igreja também deve proteger o homem da destruição de si mesmo. Um tipo de ecologia humana é necessária – reforçou o Papa, dizendo que a humanidade precisa “ouvir a linguagem da criação” para entender os papéis de homens e mulheres."

notícia extraída do jornal zero hora

17.12.08

12.12.08

goró, ângela roro e suas gotas de sangue em forma verbal.

10.12.08

a imprecadora

sou puta , sim, puta e anti-social
mas chupo o dedo sem unha
com boca de pelúcia
podem vir, que venham
todos os síndicos e o padre viado
fabricante de mendingos
o importador de anões
podem vir a negranhada
os homens-fêmeas
a indiarada os baianos
judeus nordestinos
o lixo a bosta o esgoto
passaram antraz na minha boca
na minha gengiva
torturam meu rosto
minha arcada dentária
seios nádegas olhos nariz
queixo pescoço garganta
cérebro ânus vagina
comeram toda a carne do meu corpo
vodu na boca lábios gengivas
enfia o farol na buceta
da puta-mãe de vocês no cu da puta-vaca
da tua mãe-esgoto
sou eu aqui
dormindo na rua
saia verde camisa preta
todos precisam de mim




verdade

esta dor é aguda
piora com o calor
a luz os movimentos

da primeira vez
era gastura de lágrimas
uma chuva muito quente

peço uma ajuda porque
preciso morar na pensão
pra cozinhar arroz
feijão ovo salsicha
e não beber
àgua quente da torneira

já trabalhei em lotérica
supermercado lanchonete
fui faxineiro
ajudante de pintor
vendi picolé vendi pão

cada esquina cada noite
o diabo me segue com voz de mel
se a dor vem
fico frouxo
entrego o corpo
(na rua é mais perigoso)

por isso peço
a sua ajuda:
eu falo a verdade.

do Fabio Weintraub

9.12.08

dois mil peles-vermelhas

para eles
o tempo existe em estado abolido
dois mil peles-vermelhas se abaixam na planície
felizes de sua ventura
preludiam as sublimidades de suas danças


eles tragam os dias
tumultuam as noites
dois mil peles-vermelhas e lúcidos
se preparam para fazer rir a chuva
suas terras enrugadas pelo desejo e pela fome
fazem bater seus tambores a sons plenos


sons
plenos

dois mil peles-vermelhas amorosos


se preparam para misturar seu sangue inquieto
ao leite sombrio de suas mulheres muito calmas
ao mel ridente de suas belas crianças
crianças do século
onde estão vossos tridentes
dois mil peles-vermelhas
pálidos mas sólidos
deixam as famílias para morrerem à parte
dez mil peles-vermelhas
o sangue em fogo
sua vida ainda está lá
em busca de demônios





maximillien ernst retirado do blog surrealismo do acaso
a vida

se mais uma criança apareceu.
se pra felicidade alguém nasceu.

eu sinto que a vida está mentindo,
pois nunca vi ninguém nascer sorrindo

aqueles que nascem porque é preciso
trazem uma lágrima em vez de um sorriso.

se viver é bom como é que a vida diz: "tens que sofrer pra ser feliz"



samba do guilherme de brito e do nelson cavaquinho

8.12.08

a sorte,
ferrugem na existência-sofrimento
vem para nos absorver violenta
-
mente em uma louca e lúdica viagem

sem aparente combustão
sem pagar passagem


5.12.08

impossibilidades

o céu emana calor
do branco brando da cor

tudo bem vá, não quero falar só de amor


4.12.08

recibo

tu es -
corre
dos meus olhos

rio vermelho
des
ce - todo
nos meus olhos
ou corre, vai.



lê sandra guarato


linkada ->

24.11.08

o pai, a mãe, o filho, a filha

o pai se pendeu
em lugar da pêndula.
a mãe está muda.
a filha está muda.
o filho está mudo.
todos os três seguem
o tiquetaque do pai.
a mãe é de ar.
o pai voa através da mãe.
o filho é um dos corvos
da praça de São Marcos de Veneza.
a filha é um pombo-correio.
a filha é doce.
o pai come a filha.
a mãe corta o pai em dois
come-lhe uma metade
e oferece a outra ao filho.
o filho é uma vírgula.
a filha não tem cauda nem cabeça.
a mãe é um ovo galado.
da boca do pai
pendem caudas de palavras.
a filha é uma pá quebrada.
o pai é pois forçado
a lavrar a terra
com sua longa língua.
a mãe segue o exemplo de Cristóvão Colombo.
anda sobre suas mãos nuas
e agarra com seus pés nus
um ovo de ar após o outro.
a filha remenda o desgaste de um eco.
a mãe é um céu cinza
em que se arrasta embaixo bem embaixo
um pai de papel mata-borrão
coberto de manchas de tinta.
o filho é uma núvem.
quando chora chove.
a filha é uma lágrima imberbe.

poema de hans arp retirado do blog surrealismo do acaso que retirou de
'os arcanos da poesia surrealista - seleção de josé pierre e jean schuster com tradução de antônio houaiss. editora brasiliense.


linkado ->
e por aí vão eles depredando o orelhão, recomendo umas olhadas.

21.11.08

Ao acordar confuso
um pouco tonto vou colocando tudo 'em seu lugar

não sei mas creio ter decorado cada nome
que pousa sobre coisas

levo a mão ao rosto depois caminho pela casa com os pés nus
acendo um cigarro com tragadas fortes
ouço a agulha deslizando no disco, carros e alguns gritos

e a esta altura do meu despertar distingo coisas que até eu ter estes costumes
lavar os dentes, lavar o corpo, calçar calçados,
olhar relógios, pensar nos trocos

todos eles já me vinham sendo preparados para que eu não acordasse confuso jamais

18.11.08

as paredes brancas daqui giram,
creio girá-las mas estou tão acostumado a vê-las imóveis que
não há movimento.

reconheço alguns insetos da casa
tento nominá-los mas já perdi vários deles e quase não me sobram nomes graças à lagartixa e às aranhas. estas últimas já não me enganam com essa de ficarem nos cantos e serem um pouco silenciosas
já levaram tantos insetos que imagino ainda levar tempo encarás-las como companhia.

12.11.08

'carminada é a noite que abro
com dedos calmos, dedos mínimos
entre o risório e os lábios
alguma coisa abre caminho
e sim, é estelar este hilo
e sim, vem sol nos cílios
até tem som, o sorriso.'


poema de
rodrigo césar carreira


Vilma Santos tem 59 anos e a 40 vem cantando em português e nagô, se dedicando ao candomblé associados à divulgação da cultura popular e militância no movimento negro. Ela é conhecida em Londrina também como divulgadora do samba de roda - que já mostrou em apresentações e oficinas. Dona Vilma se apresenta nesta sexta (14) e sábado (15) na Vila Cultural Cemitério de Automóveis com o show “Vilma de Todos os Santos”. No repertório, Pixinguinha, Dorival Caymmi, Noel Rosa, Lupcínio Rodrigues, João da Baiana, Ary barroso, Silas de Oliveira, João Bosco, Rosinha de Valença, Wilson Batista, Nelson Pascoal e Domínio Público. Dona Vilma estará acompanhada dos músicos Marco Scolari (acordeão e violão); Bernardo Pellegrini (violão); Ricardo Penha (baixo); Marcelo Siqueira, Vlad e Vítor Jubiabá dos Santos (percussão).
Ingressos antecipadamente na Loja Ciranda (Rua Jorge Velho, 295); Empadaria Nacional (Rua Euclides da Cunha, 42, próximo ao Mercadão do Shangrilá) e na Escola Municipal de Teatro (Rua Acre, 315) ou no local.


Reapresentações na Concha Acústica (dia 21, às 18h30); Teatro Zaqueu de Melo (dia 23, às 21 horas); e no Calçadão (dia 29, às 10h30) em Londrina - Pr.


o grinaldo me falou sobre e também me sedeu a informação.

6.11.08

uma boa para este sábado, dia oito de novembro, cervejada na vila santo antônio.
com babulina, um grupo de choro, os trutas do maracatrutas e uma banda de forró.
os ingressos subiram, agora estão quinze para mulheres e vinte para os homens.



satie, gymnopedie n° 3. chuva a manhã inteira e céu rosado no final da tarde.

décimo sexto festival mix brasil de cinema e vídeo da diversidade sexual

o mix brasil chega a sua décima sexta edição com duzentos filmes, sendo cinquenta e um deles nacionais.
o festival acontecerá em são paulo de doze à vinte e três de novembro, no rio de vinte e sete à quatro de dezembro, em brasília de quatro à onze de dzembro e em belo horizonte de oito à quatorze de dezembro.


e ainda tem o mix brasil musical

28.10.08

vinte e cinco anos da morte de ana cristina césar

poeta marginal da década de 70 juntamente com chacal, roberto piva, glauco matoso, frança e outros que no recuerdo. ela suicidou-se no dia 29 de outubro de oitenta e três, a vinte e cinco anos atrás. postarei agora três poemas dela:

noite carioca


diálogo de surdos, não: amistoso no frio. atravanco na contramão. suspiros no contrafluxo. te apresento a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum segredo.

encontro de assombrar na catedral


frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que não é mudez. e não toma medo desta alta compadecida passional, desta crueldade intensa que te toma as duas mãos.

mocidade independente


pela primeira vez infringi a regra de ouro e voei pra cima sem medir mais as conseqüências. por que recusamos ser proféticas? e que dialeto é esse para a pequena audiência de serão? voei pra cima: é agora, coração, no carro em fogo pelos ares, sem uma graça atravessando o Estado de São Paulo, de madrugada, por você, e furiosa: é agora, nesta contramão.

24.9.08



silenciosa, discreta, imprevisível, ladra e sedutora.

22.9.08

Lisa

a pensão na cidade grande era miserável. o nome pomposo: pensão palácio. eu cursava o segundo ano da faculdade de direito. meu pai era capataz numa fazenda e suas economias me foram entregues para que eu pudesse completar os estudos. desde criança eu o ouvia dizer: quero que o menino olhe o mundo por um buraco diferente daquele que eu olhei. eu nunca entendia se o mundo é que seria diferente ou se o buraco seria outro ou se o mundo seria novo olhando por um diferente buraco. a frase era complexa e ambígua demais para mim, tão criancinha. bem. a pensão tinha poucos hóspedes e todos me pareciam tristes. ou era só impressão? um deles me fascinava. baixo, magro, os olhos claros sob óculos de aro fininho, o cabelo carapinhado e loiro. fascinava por quê? alguma coisa infantil desesperada imanava do homem. ele era dono de uma pequena e dócil macaca: lisa. parecia gostar muito do animalzinho. uma vez ouvi-o contar à dona da pensão que um bando de moleques capturou a macaca e queria matá-la para comer. ele deu um bom dinheiro para os meninos e salvou a bichinha. durante o dia lisa ficava no modesto quintal astrás da casa, na goiabeira. à tarde ficava inquieta e lá pelas cinco horas ia postar-se junto à porta de seu dono. todo mundo sabia que eram cinco horas e que o homem não deveria tardar. ele chegava, ela subia-lhe pelas pernas, alcançava os ombros, dava gritinhos, coçava-lhe a carapinha loira. uma noite ouvi gemidos no corredor dos quartos e fiquei curioso. entre o meu quarto e o do homem havia um cômodo vazio onde a dona da pensão guardava coisa velhas, tampos de mármore rachado, um grande relógio muito estreito e alto, geringonças. a mulher abriu o quarto uma única vez à minha chegada "para que você não pense que há algum namorado meu escondido aí", ela dizia às gargalhadas. a porta do quarto vivia trancada, ninguém se interessava pelos badulaques empilhados ali. no dia seguinte aos estranhos gemidos, comprei uma chave de fenda e alguns dias mais tarde, ouvindo-os novamente, concluí que vinham do quarto do homem e com muita cautela abri a porta do quarto de guardados, excitado na bestagem dos meus dezenove anos. uma luz azulada entrava pelas frestas da outra porta co9ntígua ao quarto do homem. então vi: o homemnu, deitado, e lisa acariciando-lhe o sexo com as mãozinhas escuras, delicadas. entre pequenos gemidos e fracos soluços o homem dizia: "minha amada, minha adorada lisa, temos apenas um ao outro, somos apenas nós dois neste sórdido mundo de agonia e de treva". lisa olhava alternadamente para o rosto e para o sexo do homem. quando enfim ele ejaculou, ela enrodilhou-se lenta aos pés da cama. ele apagou a luz. ouvi-o dizer ainda: "obrigado, amiga". fiquei muito tempo encostado àtras daquela porta. nunca o mundo me pareceu tão triste, tão aterrador, tão sem deus. no dia seguinte escrevi ao meu pai dizendo-lhe que não tinha mais paciencia para os estudos, queria voltar para a roça. estranhou muito. nunca me perguntou coisa alguma, nem eu saberia esplicar-lhe o patético, o dilacerado de tudo aquilo que eu havia visto, nem eu saberia dizer para mim mesmo o porquê de abandonar os estudos. o pai morreu muitos meses depois. ouvi-o dizer à mãe antes do para sempre morto: "presta atenção no rapaz, não é mais o mesmo".
ele estava certo. nunca mais fui o mesmo.


retirado do livro contos d'escarnio textos grotescos, hilda hilst.

21.9.08

de frente para trás
passou a admitir o ritmo; sua vida ao avesso.
passou a sentir suas displicências,
sua ignorância.
depois de velho (vinte e tantos)
calou-se.
todos os momentos se tornaram muito voláteis;
pesava-lhe cada lembrança.


(via as pessoas falando e
preferia pensar que todas haviam nascido há pouco tempo)

acreditou a felicidade uma grande bobagem.


morreu feliz.



franklin nunes.

12.9.08

quarteto de sopros da amazônia, tocando villa-lobos.

hoje no sesc às vinte e trinta horas,
flauta, oboé, clarineta e fagote. e músicos convidados.



sesc maringá, avenida professor lauro eduardo werneck, quinhentos e trinta e um.

9.9.08

oitavo festival internacional de flautistas e primeiro evento científico da abraf.

começa nesta terça, às oito e meia da noite na fundação luzamor (o festival).
mais de duzentos flautistas irão apresentar-se no auditório entre nove e quatorze de setembro.

a abertura será seguida do recital, com o suiço michel bellavance, rogério wolf, josé ananias e sérgio morais.

abraf e uem.


+

7.9.08

se te pareço noturna e imperfeita
olha-me de novo.
porque esta noite
olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
e era como se a água

desejasse escapar de sua casa que é o rio
e deslizando apenas, nem tocar a margem.

te olhei. e há tanto tempo
entendo que sou terra.
há tanto tempo
espero
que o teu corpo de água mais fraterno
se estenda sobre o meu.
pastor e nauta

olha-me de novo. com menos altivez.
e mais atento



hilda hilst, dez chamamentos ao amigo.

6.9.08



o que é insano e o que é razão?

quem é deus nesse mundo tão cruel e hipócrita?

estamira, de marcos prado.

1.9.08

se eu colocasse o olhar,
pura ave de esquecimento,
percorrendo o exílio
como um grande talento.
o vício embebesse o mistério
no vão desta noite
(pelas trevas ferozes,
nos gestos sonoros do corpo).
com um lirismo carnalmente alquebrado,
incestuoso,
avançaria devorado
contra a muralha do meu assombro.
com inóspito horror brilharia dentro do ventre.

invadiria meu próprio abismo exaltado
e em mim mesmo ficaria acordado,
profundamente.

neste acorde me consumiria
até o último poema.


introspecto, de felipe stefani.

28.8.08



a maçã, samira makhmalbaf

“as minhas asas para levantar vôo do ninho paterno foram os folhetos de cordel. e tão bem coladas foram estas asas, que ainda hoje eu continuo voando...”


manoel monteiro.

26.8.08

arte brasileira contemporânea




você faz parte, nelson leirner.


eu estava procurando algumas imagens do nelson leirner ( que conheci à pouco no overmundo ), e caí no arte brasileira contemporanea 1960 encontrei e, acabei encontrando vários outros artistas brasileiros dos anos 60, 70, 80, 90 e 2000.
esses blogs sobre arte contemporanea brasileira são do professor e pesquisador de história da arte, paulo trevisan. vá-lá!

12.8.08

o babulina irá (recebemos o convite, pelo menos) apresentar-se no acampsi, dia 22 de agosto.
instruções para dar corda no relógio.

lá no fundo está a morte, mas não tenha medo. segure o relógio com uma mão, pegue com dois dedos o pino da corda, puxe-o suavemente. agora se abre outro prazo, as árvores soltam suas folhas, os barcos correm regata, o tempo como um leque vai se enchendo de si mesmo e dele brotam o ar, as brisas da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
que mais quer, que mais quer? amarre-o depressa a seu pulso, deixe-o bater em liberdade, imite-o anelante. o medo enferruja as âncoras, cada coisa que pôde ser alcançada e foi esquecida começa a corroer as veias do relógio, gangrenando o frio sangue de seus pequenos rubis. e lá no fundo está a morte se não corremos, e chegamos antes e compreendemos que já não tem importância.

preâmbulo às instruções para dar corda no relógio.

pense nisto: quando dão a você de presente um relógio estão dando um pequeno inferno enfeitado, uma corrente de rosas, um calabouço de ar. não dão somente o relógio, muitas felicidades e esperamos que dure porque é de boa marca, suíço com âncora de rubis; não dão de presente somente esse miúdo quebra pedras que você atará ao pulso e levará a passear. dão a você — eles não sabem, o terrí­vel é que eles não sabem — um novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo com sua correia como um bracinho desesperado pendurado a seu pulso. dão a necessidade de dar corda todos os dias, a obrigação de dar-lhe corda para que continue sendo um relógio; dão a obsessão de olhar a hora certa nas vitrinas das joalherias, na notí­cia do rádio, no serviço telefônico. Dão o medo de perde-lo, de que seja roubado, de que possa cair no chão e se quebrar. dão sua marca e a certeza de que é uma marca melhor do que as outras, dão o costume de comparar seu relógio aos outros relógios. não dão um relógio, o presente é você, é a você que oferecem para o aniversário do relógio.


cortàzar, histórias de cronópios e de famas.

2.7.08

Os objetos da casa não me dizem nada,
tento convence-los disso.

desisto quando mostram-me suas finalidades.
definição à música de erik satie

a mão desliza pelo rosto, uma pele escura liga-a ao ante-braço. tocou seus braços, pernas e pés, dir-se-ia que aqueles braços não eram seus, muito menos as mãos
desajeitadas.
ouvia a uma peça de satie que entrava pela porta entreaberta do banheiro sem incomodar os anos. notou derrepente que não existia e desejou realmente não ser nada, nem uma música como aquela, que também possui um final e que mesmo assim nunca se acaba.

4.6.08

Bolaño e os Detetives Selvagens.

O chileno Roberto Bolaño morou um tempão no México, publicou vários livros em poucos anos e morreu em dois mil e três com cinqüenta e cinco anos. Dele conheço (de vista) Os Detetives Selvagens, e estou perto de conhecer o livro de contos Putas Assassinas e um outro romance chamado Noturno do Chile.


los detetives:

Tudo começa com o personagem García Madero, se não fossem as prévias teria acreditado ser ele o principal personagem (até a página cento e quarenta e dois, pelo menos), ele fala de seu dia-a-dia-dia-por-dia, fala de como entrou para o Realismo Visceral, como foi abandonando o curso de Direito e até como foi sua primeira trepada. Conta também suas andanças pela Cidade do México, dos encontros com os real-visceralistas e dos poemas que escrevia, não os lia, mas contava quantos havia escrito naquele dia.
O romance é dividido em três partes, a primeira, Mexicanos Perdidos no México, que é na realidade o diário de García Madero, a segunda e maior parte, Os Detetives Selvagens, conta com mais de cinqüenta depoiimentos de testemunhas que falam, às vezes, sobre si mesmos com histórias intermináveis que aparentemente não tem nada a ver com o "destino" dos poetas Arturo Belano e Ulisses Lima.
O eu-leitor acompanha o trajeto de Lima e Belano atraves dos depoimentos de pessoas que conheceram em suas viagens, de alguns poetas que entrevistaram enquanto investigavam o paradeiro de Cesárea Tinajero (quando não haviam partido para Sonora) ,real-visceralistas e algumas pessoas com a qual se envolveram.
Passam-se anos ( de setenta e quatro a noventa e seis), e é dessa forma que ficamos sabendo do que foi feito do Realismo Visceral e dos real-visceralistas. Foi através de uma ligação que Luís Rosado soube da morte de Pele Divina (e eu, fiquei sabendo ao ler seu depoimento) . Albertito Moore falava com Rosado sobre a noite de cão que teve, e enquanto isso eu já pensava em Pele Divina.


Comecei a ler Os Detetives Selvagens e descobri, de súbito, que o detetive era eu, naverdade
.
noite passada eu sonhei que alguém me amava.

Gabriel desinteressava-se fácil de tudo, desistia, deixava que as outras pessoas se saíssem por cima, para lhes massagiar o ego, talvez.
Nenhum homem já o atraía, às vezes trepava com alguns que encontrava em bairros noturnos da cidade.
Acabado o expediente de trabalho voltou para casa caminhando e observando pessoas nas ruas escuras de seu bairro. Parou em uma farmácia para comprar alguns remédios anti-insônia receitados por um cara com quem trepava e que havia acabado de ser formar, este ainda não havia percebido que ao entender uma pessoa ao entrar na realidade dela estaria ele totalmente de acordo com qualquer atitude tomada pela mesma.
Naquela noite para garantir, Gabriel tomou dois comprimidos, acordou às sete e pouco e logo saiu para trabalhar pelas tumultuosas ruas agitadas.
No final da tarde ao voltar para casa, lembrou-se de seu sonho e decidiu ligar para alguém.
— Quanto tempo, pensei em ligar para você e o fiz, disse ele de um orelhão público.
Gabriel contou seu sonho ao insensível amigo de trapadas psicoanalisticas e este se mostou ausente, passados alguns minutos de conversa, que fora terminada com um encontro marcado, desligaram.
Quando chegou em seu pequeno apartamento de um quarto e banheiro, tomou vários remédios, entre eles, um frasco para coração, que já não tinha vontade de continuar a pulsar e um frasco inteiro de comprimidos para dormir.

Olhando-o estirado em sua cama estreita com uma expressão tranquila, depois de ver os vidros de remédios vazios em seu enorme banheiro, pensei em sua vida e na realidade hostíl que o engolia, depois pensei em seu sonho e até então eu não o havia compreendido.
Gabriel sonhou que alguém o amava e a partir daquele momento desejei ser eu com quem ele sonhava.

2.6.08

ferrugem

Sou o dia se acabando.
meus cabelos são um bando de garças
magras e brancas
­c
­ ­a
­i
­ ­n
­d
­ ­o

e
r
e
t
a
s

no chão cheias de graça.

as palavras me soam sem sentido,
uma mistura de noise
e sorrizinhos contidos.

o sofrimento está quase acabando e antes que este se acabe
vou fechar os olhos e desaparecer como a bruma noturna
ao amanhecer.

23.4.08

a terra finalmente 
vai parar de girar em torno do sol
quando nos encontrar-mos em uma madrugada qualquer

vendo ele nascer

8.3.08

tudo o que eu mais queria: La Vie En Rose — trilha sonora*



o filme é de 2007, do diretor Oliver Dahan.
Conta a biografia intensa de Edith Piaf, com a si belle Marion Cotillard.

* clique na imagem para baixar a trilha sonora do filme; ao finalizar o download, será pedido senha para retirar o arquivo zippado; a senha é: http://tuchinsky.blogspot.com/

5.3.08

schubert: um cara 'singular' que dormia de óculos, papel e caneta à mão.



Aos sete anos de idade ( 1804 ) Franz Schubert foi confiado ao maestro do côro da paróquia de Liechtental — este, dominava contraponto muito bem —, Michael Holzer, que além do piano e violino — ensinado pelo irmão Ignaz e por seu pai Franz Theodor Florian Schubert — passou a estudar orgão, canto e composição. A musicalidade estava no sangue de Schubert, tudo o que era passado soava-lhe familiar e, quando sua família reunia-se para tocar, ele apontava os erros de seus irmãos mais velhos, inclusive os erros de seu pai, só que delicadamente: "Senhor meu pai, alguma coisa saiu errado aí..."
­Em 1808 foi aprovado no Internato Imperial do Stadkonvikt, o maestro italiano — um de seus primeiros e mais influentes — Antônio Salieri, observou que Schubert se mostrava um ótimo soprano, e o diretor do colégio acrescentou que o garoto possuia muito bom preparo elementar.
Dois anos depois, aos 13 anos de idade compôs uma Fantasia para Piano a 4 Mãos e o Quarteto para Cordas nº1 em Si Bemol Maior. No ano seguinte escreveu Hagars Klage, seu primeiro Lieder. Schubert não foi o primeiro a criar um lied ( poema lírico, no qual a música e as palavras se fundem, caracteristicamente germânica ), Weber já compunha e antes deste vários músicos oitocentistas do Norte da Alemanha já haviam esboçado o gênero. Só que seus lieder continham algo de novo, pessoal e unico.
­Ele recebeu em 1811 do Internato Stadkonvikt "a decisão de expressar ao mesmo a especial satisfação pelos seus notáveis progressos" no livro de atas.
Franz Schubert "grasnou" pela última vez em 26 de julho de 1812, depois de 3 anos integrado no côro dominical do Internato, quando atingiu a puberdade — modificando sua bela voz.
­Ao deixar a escola em 1813, Franz Schubert era de formação tipicamente classicista: no coral do colégio tivera a oportunidade de conhecer a maior parte do repertório sacro classicista cultivada em Viena na época e todo seu aprendizado instrumental fôra baseado em Mozart e Haydn.
No mesmo ano sua mãe morre e um ano depois seu pai se casa com Ana Kleyenbock, este fato e a possibilidade de ser convocado para o exército afetaram sua sensibilidade. Graças à grande carência de mestres-escolas em todo o país, os mesmos não eram convocados. Isso abriria a ele a possibilidade de escapar à caserna e eliminar os conflitos que frequentemente vinham ocorrendo entre ele e o pai, que insistia em forçá-lo a preparar-se para o magistério.
­Em 1814 Schubert matriculou-se na Escola Normal. Embora estudando para ser professor, Schubert fazia da composição sua principal atividade, cariando varios quartetos e minuetos, alguns lieder e ainda uma obra de grande porte — a Missa em Fá Maior —, a primeira da sequencia de seis que escreveria.
­Usando versos de Goethe, Schubert escreve Margarida na Roca ( Gretchen an Spennrade ), considerada a expressão mais alta do lied.
Ao completar 18 anos ( em 1815 ) Schubert caiu em um surto de produção, criou 203 obras, entre elas a Missa nº2 em Sol, a 2ª Sinfonia em Ré Maior, quatro óperas e 145 lieder.
­Schubert era desapegado com as coisas que compunha, largava os seus originais em tabernas, nos bancos de jardins publicos, nas casas aonde ia, perdia-os com frequencia.
Sua inspiração o impunha a escrever em lugares inusitados. Uma vez ele escrevera no guardanapos de um restaurante uma melodia para um poema de Shakespeare: Ouve, Ouve a Cotovia. Durante o sono lhe passavam temas pela cabeça, por isso costumava dormir de óculos, sempre com papél e caneta à mão, a fim de anotá-los depressa e adormecer novamente.
Schubert morreu com 31 anos no dia 19 de novembro de 1828 vitimado pelo tifo, com seiscentas canções entre lieds, sinfonias, óperas e outros trabalhos escritos.
datas e fatos relevantes obtidos em: Abril Cultural, 1969; Grandes Compositores da Música Universal.